domingo, 24 de julho de 2011

Vão reformar a Praça da Graça




Foto antiga da Praça da Graça em Parnaíba
Acervo de Helder Fontenele

É importante Tomar Conhecimento 
Na edição que está nas bancas da Parnaíba, o jornal O Bembém desvenda o mistério da reforma que a Prefeitura pretende fazer na Praça da Graça. Depois de três décadas da funesta demolição que destruiu a antiga Praça, correm boatos de outra reforma. Mas só boatos, sem nenhuma informação oficial ao povo.
O Bembém entrevistou Rosalina Veloso, a arquiteta contratada para criar o Projeto de Reforma. Mas ia ser feito tudo na moita, sem qualquer conhecimento da população. Rosalina, porém, aceitou conversar com a equipe do jornal e revelou tudo sobre o andamento do Projeto e as atitudes do IPHAN, órgão nacional que terá de aprovar o Projeto.


Todos que amam a Parnaíba precisa comprar O Bembém de julho e conhecer tudo que está sendo projetado. Leia abaixo o Editorial em que se reflete sobre a Praça e seu valor afetivo e histórico.
Editorial
A Praça da Graça, como espaço social público, está inserida na História da cidade desde a segunda metade do século 18, quando sua área foi demarcada. Aparece nas plantas de 1798 e de 1809.  Era um terreno seco, um largo descampado fronteiro às duas igrejas. No centro do largo, sem arborização, fincou-se a forma funesta de um pelourinho. Ali, diante das igrejas, o povo assistia às torturas e ouvia os gemidos dos escravos de Domingos Dias da Silva, de seu filho Simplício e de outros brancos que se achavam donos de homens negros.

No início do século 19, o pelourinho foi levado para outro lugar. A área continuou livre, descampada, vazia. Com as chuvas, a água se empoçava formando o que, no começo do século 20, o povo chamava Lagoa da Onça (ou Do Onça). Foi então que o velho Largo começou a tomar jeito de jardim e praça. Primeiro teve o nome de Passeio Público e o seu primeiro equipamento de intenção estética foi um coreto, daqueles típicos da Belle-époque, com cobertura em abóbada. Até que nos anos trinta, tomou sua forma mais encantadora, aquela que parecia definitiva. Dividiu-se em dois o grande espaço, com uma pista de rua entre os dois. Fizeram-se então a Pracinha e a Praça da Graça, que teve o nome em homenagem a Nossa Senhora da Graça, padroeira única da Parnaíba. Estava pronta a Praça que se fez amada por todos os peagabês.

Se a Pracinha era um mimo, a Praça da Graça era o primado da Beleza. O elogio da curva, da simetria e do desenho geométrico. Era o império do art-déco na cidade.

A Praça não foi construída de uma só vez. Nem por um só prefeito. Foi no tempo em que, na Parnaíba, o que um prefeito fazia de bom era mantido e valorizado pelos que viessem depois. A Praça nasceu de um processo lento, de cerca de duas décadas. Tudo foi surgindo aos poucos, sem que nada parecesse improviso ou criação apressada. Uma de suas últimas construções foi o Monumento, construido e inaugurado por Mirocles Veras em 1935. Mas nossa escassa documentação histórica ainda não nos respondeu que homens criaram e conceberam seus diversos elementos de composição? Quem criou o desenho do Monumento? Do Coreto, da Pérgula... ?

Mas essa Praça tão amada foi, no final dos anos setenta, estupidamente demolida pelo prefeito Batista Silva e seu assessor Roberto Broder. Dela, restou seu desenho salvo em imagem de dezenas de fotografias e armazenado na memória de quem a conheceu.

E agora, o que acontecerá na reforma que se anuncia?
São muitos os boatos que correm:
- “voltará a ser como era antes;
- vão reconstruir o coreto e a pérgula;
- vão somente trocar o piso...”
Certo é que até agora, nada havia de informação concreta. Por isso, nossa editoria procurou e obteve dados objetivos sobre o que está, no momento, previsto para ser feito. A prefeitura contratou a arquiteta Rosalina Veloso, autora do Projeto que está sendo encaminhado ao IPHAN, que fará sugestões, discordará de detalhes até por fim aprovar o Projeto Executivo, visto que a Praça está dentro do conjunto tombado a nível nacional.

Mas o PHAN precisa entender que essa Praça que está aí (sua paginação, seus equipamentos, sua constituição) não tem nenhum valor estético para os parnaibanos, nem histórico, nem arquitetônico. O afeto da cidade é pelo que ela representa, pela carga de historicidade que irradia em sua essência; não mais em sua arquitetura. Por isso, se a Praça ressurgir com algum detalhe novo e belo, com pontos de convívio social mais elegantes e confortáveis, com um coreto digno e utilizável, certamente a reforma será bem sucedida. A beleza era marca essencial da antiga Praça. Ouvir a população, alguns dos seus representantes não custa nada ao prefeito, nem ao IPHAN. Afinal, a Praça da Graça não pertence só ao IPHAN e ao prefeito. É o bem patrimonial de arquitetura mais amado da Parnaíba.

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