Em recente entrevista ao jornalista Bernardo Silva, o Prefeito Florentino Neto (PT) declarou que “admite ser candidato à reeleição, mas o pleito do ano que vem não está na sua agenda e nem o preocupa”, disse ainda que “está focado na gestão e em cumprir os compromissos assumidos com a população”.
As intenções conscientes e as versões dos acontecimentos afirmadas explicitamente pelo prefeito são produto de um permanente trabalho de racionalização, através do qual ele busca tornar aceitável para si e para os demais atos que são considerados inaceitáveis de acordo com os valores morais que ele mesmo afirma publicamente. O seu talento bem que poderia ser usado em favor da cidade!
Não se pode dissimular nem tergiversar sobre um assunto que consome boa parte do tempo e das ações administrativas deste atual governo! Esse fato político desabona mais a sabedoria humana que quaisquer outros eventos da incompetência administrativa que se ver aflorar na cidade!
Parnaíba sonha com a sinceridade, nada de sofisma, populismo e nem hipocrisia. Suas declarações embasam uma estratégia que pretende passar para a população, como sendo um honrado homem público, detentor de um a postura ética sem paralelo, um gestor comprometido de fato com o bem estar do seu povo. Quer passar a ideia de que não faz política em sua administração.
Mais uma vez tenta enganar seu povo! Porém, há nisso tudo uma verdade: ele não está fazendo política no seu cargo, ele faz politicagem! Hipocrisia na melhor acepção do termo.
O termo hipocrisia era utilizado na Grécia antiga com um significado semelhante ao usualmente empregado na atualidade: procedimento similar ao de um ator (do grego “hypocritás”); isto é, aquele que intencionalmente age de modo simulado; produz atos e palavras em desconformidade com o que ele pensa e esconde a natureza desta representação; age de forma enganosa, com o objetivo não revelado de produzir determinados resultados, diferentes daqueles que seriam decorrência de um comportamento não falsificado.
Prima irmã da traição e da mentira, a hipocrisia política sustenta, cada vez mais com maior frequência, universos paralelos que não são os da física quântica nem da espiritualidade oriental. São os mundos invisíveis da política; os bastidores aos quais poucos têm acesso. A chave que abre para essa realidade do real é desmascarar a hipocrisia. Nos dicionários está lá: “O ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa, na verdade, não possui.” Trata-se da representação, da atuação, como a de um ator, de pessoas, homens políticos e governos que fingem determinados comportamentos.
As duas declarações postadas acima não condizem com a realidade dos fatos, mas vamos por partes. Na primeira, diz o prefeito que não está fazendo política visando a sua reeleição. Isso seria o correto, mas a forma com que ele tem usado o poder administrativo vai num caminho oposto à fala.
Na segunda declaração outra inverdade ou um atestado de incapacidade de cuidar da cidade. Diz está focado em cumprir os compromissos da gestão. Ou ele joga para os incultos ou assume não ter conseguido desenvolver as mais básicas ações do seu governo.
Deve este governo, governar. Parar de ficar usando os meios de comunicação, a preço de ouro, para se passar por aquilo que não é. Deve parar com a hipocrisia! O povo é rude, em sua maioria, é distante das decisões e não consegue influenciar ou reivindicar suas necessidades ao gestor. Nem por isso se justifica o modo tradicional de se fazer política reinventado nos últimos anos na Parnaíba!
A retidão e a ética aparecem como propulsores da gestão municipal, contudo mais para ficar de bem com aqueles que o escutam, pois em verdade disfarçam e mascaram os desacertos do governo.
Só Maquiavel não considera a hipocrisia um atributo do falso político (como no caso da figura aristotélica do demagogo), mas um recurso usualmente utilizado na atividade política realmente realizada. No seu entender, o governante necessita, para conquistar a estima do povo, parecer bondoso, humano, piedoso, íntegro e honesto, ainda que não possua tais qualidades ou que seja levado em função dos seus interesses a agir de modo diverso. É próprio da arte política a utilização de estratagemas como ressaltar os benefícios feitos e ocultar falhas e erros, e atribuir aos outros as coisas odiosas e reservar para si as enaltecedoras. Estariam estudando na cartilha de “O Princípe”?
Conclui-se com uma lamentável constatação na gestão municipal: se abandonou ou relativizou os seus princípios programáticos, aqueles que correspondiam à finalidade da sua existência, e afirmou os seus interesses imediatos, de acordo com as demandas do jogo do poder. A razão política restrita à racionalidade meio-fim desprezou os princípios e valores éticos em favor da eficiência e do êxito. Deste modo, tornou-se serva do poder. Opera como prisioneira da lógica do jogo do poder e tem por função fornecer os argumentos racionais necessários para a legitimação deste jogo. Mas, nada disso é política! E não é mesmo, o nome disso é politicagem! Metade inteira de um discurso de um governo enganador!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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