quinta-feira, 9 de junho de 2016

Estou com medo e minha filha em choque', diz mãe de vítima de estupro


Mãe de vítima diz que ela e a filha não conseguem sair de casa.
Três jovens estão apreendidos e um homem preso suspeitos pelo crime.

Ellyo Teixeira e Pedro SantiagoDo G1 PI, em Pajeú
Mãe de vítima de estupro coletivo fala sobre o que viu na cena do crime (Foto: Ellyo Teixeira/G1)Mãe de vítima de estupro coletivo falou para o G1 o que viu na cena do crime (Foto: Ellyo Teixeira/G1)
A mãe da vítima de um estupro coletivo no Piauí, que pediu para não ser identificada, contou para oG1 nesta quinta-feira (9) que após o crime ocorrido na noite do dia 7 de junho, a sua vida e da filha, que tem apenas 14 anos, mudaram radicalmente. A aposentada relatou que as duas mal conseguem dormir ou comer. “Eu e minha filha ainda não conseguimos sair de casa, estou com medo e minha filha em choque, ela está sob efeito de medicamentos fortes. Não sei como que será daqui para frente”, disse.
Crime aconteceu em um dos banheiros do ginásio poliesportivo de Pajeú (Foto: Ellyo Teixeira/G1)Estupro coletivo ocorreu em banheiro do ginásio
poliesportivo de Pajeú do PI (Foto: Ellyo Teixeira/G1)
O crime aconteceu na noite de terça-feira dentro do banheiro de um ginásio poliesportivo em Pajeú, a 460 km de Teresina. A mãe da garota chegou a flagrar o estupro e tentou impedir que os rapazes fugissem, mas não conseguiu. A adolescente estava despida e foi levada desacordada ao hospital. Três adolescentes estão apreendidos e um homem preso suspeitos de terem cometido o crime.

A mãe da vítima contou que morou em São Paulo por muitos anos e que voltou ao Piauí há apenas um ano para cuidar da mãe idosa. Com o crime sofrido pela filha, o sonhado retorno à terra natal se tornou um transtorno inimaginável. “Sempre quis voltar para minha terra para cuidar da minha mãe idosa. Estamos aqui há um ano o sonho se tornou um pesadelo depois do que aconteceu com minha filha”, contou para o G1.

Apesar do sofrimento relatado, a mulher ainda guarda bons sentimentos para as mães do quatro jovens que são apontados pela Polícia Civil e Ministério Público como os autores do estupro coletivo. “Estou sofrendo, mas também imagino o sofrimento da mãe dos suspeitos. Eu pelo menos tenho minha filha aqui ao meu lado. Já as mães dos outros quatro não estão podendo contar com eles nesse momento”, disse.
Delegado Yan Brayner, responsável pelas investigações  (Foto: Ellyo Teixeira/G1)Delegado Yan Brayner, responsável pelas
investigações (Foto: Ellyo Teixeira/G1)
Para o promotor de Justiça Márcio Carcará, o testemunho da mãe e o laudo do exame de corpo de delito comprovam que houve de fato o crime. Baseado nessas provas, o Ministério Público pediu a prisão preventiva do maior preso pelo estupro e a internação dos outros três adolescentes suspeitos no Centro Educacional de Internação Provisória (CEIP), em Teresina.

Segundo o delegado responsável pelo caso, Yan Brayner, os jovens foram transferidos para Teresina na tarde desta quinta-feira.
“É um crime que chocou a população de quase 4 mil habitantes. Todos estão apavorados e estes suspeitos devem ser transferidos com urgência, até porque ainda estamos no calor da emoção de tudo que aconteceu”, falou o delegado.
Contradição entre suspeitos
Na quarta-feira (8), o Ministério Público pediu a prisão preventiva do maior e a internação dos outros três adolescentes no Centro Educacional de Internação Provisória (CEIP), em Teresina. Os suspeitos são três adolescentes, dois de 17 anos e um de 16 e ainda um jovem de 18 anos.
Vítima chega à Gerência de Polícia do Interior para prestar depoimento (Foto: Beto Marques/G1)Vítima chega à Gerência de Polícia do Interior para prestar depoimento (Foto: Beto Marques/G1)
De acordo com o delegado Yan Brayner, pelos depoimentos dos quatro suspeitos ficou confirmada a prática do estupro oral na garota, mas alegam que tudo aconteceu com a permissão da adolescente. No entanto, depoimentos da mãe, de dois policiais militares e do vigia de um prédio próximo ao ginásio, dão conta de que a menina estava desacordada e não esboçava nenhuma reação quando foi encontrada.

“Os depoimentos enfraquecem essa defesa deles de que o ato foi consensual, já que a menina estava desacordada e não esboçava reação alguma”, falou o delegado. Outras pessoas ainda serão ouvidas na Delegacia de Canto do Buriti, onde as investigações estão concentradas.
O promotor de Justiça Márcio Carcará, responsável pelo caso, afirmou que em depoimento, os jovens apresentaram versão conflitantes. “Eles dizem que estavam no ginásio e começam a beber. Os argumentos são contraditórios, não batem. Tentam descredibilizar a versão da vítima, mas o laudo do exame do corpo de delito assevera o que de fato aconteceu”, disse Carcará.
Mãe de vítima de estupro coletivo no Piauí falou com o G1 (Foto: Ellyo Teixeira/G1)Mãe de vítima de estupro coletivo no Piauí falou
com o G1 (Foto: Ellyo Teixeira/G1)
Mãe diz que tentou evitar fuga dos suspeitos
Em entrevista para a TV Clube, afiliada Globo do Piauí, a mãe da vítima contou como encontrou a filha e que ainda tentou evitar a fuga dos suspeitos (assista ao vídeo ao lado). “Eu escutei um gemido no banheiro. Quando eu entrei, eu bati na porta do banheiro e vi os quatro caras pelados. Todos pelados e ela já deitada no chão sem roupas, desmaiada. Aí eu fechei a porta do banheiro e pedi socorro pro guarda que estava no outro lado, só que eu não tive força para ‘sustentar’ a porta. Eles arrombaram, bateram na porta e saíram correndo, todos pelados. Mãe nenhuma aguenta isso que estou passando”.

A menina, que também participou da entrevista, contou que tomou um refrigerante oferecido pelos suspeitos e depois disso só lembrar que acordou no hospital. “Disseram para mim que era uma coca (refrigerante) e eu disse 'não, não quero tomar', insistiram até que uma hora eu tomei e depois de dois copos eu já não lembro o que aconteceu. Foi a hora que eu me apaguei. Só fui lembrar o que estava acontecendo quando eu estava no hospital”, afirmou a vítima.

Ainda na noite de terça-feira a menina foi encaminhada para Teresina para ser submetida a exames e na manhã desta quarta-feira (8) recebeu atendimento no Serviço de Atenção a Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Sanvis) na Maternidade Dona Evangelina Rosa.
Outros casos de violência sexual
No dia 20 de maio, quatro adolescentes foram apreendidos e um rapaz de 18 anos foi preso por suspeita de participação no estupro coletivo de uma garota de 17 anos, encontrada em uma obra abandonada, amarrada e amordaçada. Seis dias após as detenções, uma decisão judicial  mandou que os menores fossem liberados da delegacia. Eles seguem sendo investigados em liberdade.

Os advogados dos adolescentes suspeitos, Osorio Filho e Paulo de Tarso, afirmaram que vários pontos mostrados na investigação mostram que não houve participação dos jovens no crime. Segundo os advogados, a vítima não reconhece os quatro adolescentes como sendo seus agressores.

Um outro estupro coletivo ocorrido em Castelo do Piauí, Norte do estado, chocou o país pelos requintes de crueldade praticados contra quatro amigas que saíram para fotografar em um ponto turístico da cidade. O crime aconteceu no dia 27 de maio do ano passado.
Morro do Garrote, local onde as meninas foram violentadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)Morro do Garrote, local onde as meninas foram violentadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Quatro menores e mais um adulto, identificado como Adão José da Silva Sousa, foram apontados pelo Ministério Público Estadual e pela polícia como autores da série de atrocidades cometidas contra quatro garotas que foram estupradas, agredidas e arremessadas do alto de um penhasco de cerca de 10 metros de altura. Uma delas, Daniely Rodrigues, não resistiu aos graves ferimentos e morreu após 10 dias internada na UTI do Hospital de Urgência de Teresina (HUT).

Na semana passada, o Tribunal de Justiça do Piauí não aceitou a tese de que os três adolescentes condenados pelo estupro coletivo de Castelo do Piauí não tiveram participação no crime e foram obrigados admitir culpa. O recurso da Defensoria Pública, julgado nesta sexta-feira (3), pedia a absolvição dos jovens por falta de provas, mas o argumento não foi aceito pelo pleno do TJ, que decidiu pela manutenção da medida sócio educativa. O quatro adolescente envolvido, foi espancado até a morte dentro do alojamento do Centro Educacional Masculino (CEM) quando já cumpria medida socioeducativa.

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