Usina de Santo Antônio, em Rondônia, deve produzir primeiro megawatt no dia 28, com turbina que traz menor impacto ambiental; veja o infográfico e entenda a diferença
Foto: Divulgação Ampliar
Parte da usina onde fica a turbina que será ligada, na margem direita: a primeira do tipo na Amazônia
Assim, Santo Antônio será o oposto dos últimos empreendimentos feitos na bacia hidrográfica mais importante do País. Em 1980, o governo inaugurou a usina de Balbina (AM), considerada um desastre pela imensa área alagada e a produção pífia. Ainda no final do regime militar, foi construída a hidrelétrica de Tucuruí, uma das maiores do Brasil, mas que também deixou muita floresta debaixo d`água (2.414 km2, contra 350 km2 em Santo Antônio) – e que, no mais, fica numa região do Pará já quase fora da bacia amazônica.
Santo Antônio fica próxima ao coração da região amazônica e terá a melhor relação entre área alagada e energia gerada, em comparação com qualquer usina brasileira. Sozinha, irá produzir 3.150 MW, cerca de 3% da atual capacidade elétrica do País. Em conjunto com Jirau, vai formar o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, que deve adicionar 6.600 MW ao sistema nacional de energia.
Após a entrada em operação dessa primeira turbina, as outras serão inauguradas num ritmo médio de uma por mês, até que, em 2016, todas estejam funcionando. O consórcio construtor adiantou em um ano o início da geração, que ocorreria em dezembro de 2012, para antecipar receitas, mas não divulga o quanto isso vai adicionar ao caixa. O plano era fazer um evento de inauguração, que contaria com a presença da presidenta Dilma. Mas, por motivos técnicos, a turbina só poderá ser ligada nos últimos dias de dezembro, data desfavorável para a agenda política.
Primeira grande obra do governo Dilma e parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a usina de Santo Antônio é também um superlativo esforço de engenharia. No momento, 18 mil pessoas trabalham no canteiro de obras – chegou a ser 20 mil. Elas consomem 78.800 quilos de carne, 800 mil xícaras de café e 11.400 sacos de arroz por mês. A quantidade de concreto usada na construção seria suficiente para erguer 37 estádios do Maracanã. O aço empregado faria 18 torres Eiffel. O custo total deve passar dos R$ 15 bilhões.
Santo Antônio será a primeira grande usina brasileira a usar turbinas bulbo. A tecnologia já existe no País, mas em projetos menores, como a hidrelétrica de Igarapava (MG). A hidrelétrica do Rio Madeira será a maior do mundo a usar turbinas do tipo – a segunda fica no Japão e tem apenas nove turbinas. A turbina que será ligada no final do mês mede 8,15 metros de diâmetro – é menor apenas que as usadas em Murray Lock (EUA) – e tem capacidade de gerar, numa vazão ideal, 71,6 MW.
As turbinas bulbo permitem a criação de usinas do tipo “fio d’água”, ou seja, todo o volume de água que chega à barragem corre para o outro lado – não há reservatório. Isso faz o impacto de Santo Antônio ser menor. A variação da altura do rio, na parte anterior às turbinas, será de 13,9 m, pouco maior que a cheia natural do Madeira. “Isso é possível porque a turbina bulbo é mais eficiente", explica Andre Morello, engenheiro e coordenador de fornecimento eletromecânico em Santo Antônio. "Com ela, a velocidade natural da água, sem barragens, é suficiente para gerar energia significativa.”
Foto: Divulgação Ampliar
A obra de Santo Antônio, em novembro. Repare que parte do leito está "ensecada", com o curso desviado, para permitir a construção
Mesmo com tantos números grandes, Santo Antônio pode aumentar de tamanho. O consórcio construtor, formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez, Eletrobras e outras empresas, submeteu à agência controladora de energia um plano para incluir mais seis turbinas no projeto, o que aumentaria a capacidade de geração para 3.580 MW. O projeto está em análise pela Aneel e pelo Ministério de Minas e Energias.
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A energia produzida a partir do dia 28 já será distribuída para o sistema Acre-Rondônia. Os 3 km de linhas que ligam Santo Antônio ao sistema elétrico, também construídos pelo consórcio que vai administrar a usina por 35 anos, ficaram prontos há cerca de dois meses. O potencial elétrico brasileiro, um dos diversos gargalos de infraestrutura que o país precisará solucionar nos próximos anos, será um pouco maior nos primeiros dias de 2012 do que foi em 2011 – com um custo ambiental que também olha para o futuro.
fonte ig
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