Relojoeiro, comerciante, fotógrafo, desenhista, escultor, pintor e poeta. Diferentes facetas em um só indivíduo.
O Sr. Dilton Fernandes Batista, de
68 anos, é natural do estado do Maranhão, da capital São Luis, e durante
os primeiros anos de infância morou com o pai em Guajaramirim
(fronteira com a Bolívia), partindo aos cinco anos para Rondônia, onde
viveu até os 20. Foi lá que aprendeu a arte da fotografia, como também
os ofícios de relojoeiro e ourives.
Antes de mudar para o Piauí, fato
que ocorreu em 1960, chegou a ser capturado por uma tribo indígena,
quando fazia uma travessia de barco com um amigo boliviano, Wilis
Tabográ, pelo rio Madeira a caminho do estado de Mato Grosso, uma forma
de buscar aventura e também vender produtos. Durante 10 dias foi mantido
amarrado, até que foi ganhando a confiança dos índios e, passado um
mês, ele e o amigo ganharam a liberdade, e algo mais: “nos primeiros
dias, achávamos que íamos morrer, jovens ainda, chegamos a chorar e
combinar de que se algum de nós conseguisse sair com vida era para
avisar para a família do outro, mas depois que a tribo se familiarizou
com agente, recebemos até presentes deles, que pudemos levar, quando
partimos”.
Deixando para trás Rondônia, Dilton
chegou em Parnaíba, e encontrou o Sr. Milton Magalhães, que lhe cedeu um
ponto comercial para abrir seu comércio, onde até hoje existe. Depois
de quatro anos, e já instalado em loja própria, Dilton é chamado para
consertar o relógio que havia na Praça da Graça, e lembrando com
nostalgia relatou um pouco de como era o funcionamento e a manutenção
desse símbolo da cidade: “o relógio tinha uns 15 metros e era
constituído de três partes: o comando, na parte inferior, no meio, a
parte da propaganda e acima o relógio em si… A entrada para o
conserto se dava por um portão de ferro de 60 centímetros”. Na
ocasião, Dilton se estabeleceu como técnico responsável pela
manutenção de um dos monumentos mais marcantes de Parnaíba que, depois
da reforma ocorrida na década de 70, do qual várias mudanças foram
realizadas, o relógio foi desmontado e retirado do local, fato que
causou tristeza para o cidadão que durante mais de 10 anos zelou por
esse patrimônio da cidade: “na época, entrei na Praça, já fechada
para a reforma, e vi que tinham tirado do lugar e desmontado, tentei
alguns anos depois (na década de 80) falar com o chefe do depósito, onde
se encontravam as peças do relógio, para que fosse montado novamente,
mesmo que fosse em outro lugar, mas recebi um ‘é complicado’ como
resposta”.
Passado alguns anos, já na década
de 90, seu comércio, que desde o inicio localizou-se na Rua Almirante
Gervásio Sampaio, N.º 680, torna-se uma óptica, numa época onde os
ofícios como de relojoeiro já não eram mais tão requisitados devido às
novas tecnologias que surgiram; Dilton, então, acaba por adaptar sua
loja aos novos tempos.
Pai de seis filhos, Dilton Jr., Fredde, Epitácio, Cristian, Hilton e o mais novo Gilton, nascidos do casamento com Jandira de Moura Batista que já dura quase 50 anos. Dilton lembra como sua vida se estabeleceu nos últimos 48 anos, quando se mudou para Parnaíba: “cheguei e logo depois, felizmente montei um negocio e casei, moro na mesma casa, há mais de 40 anos… finquei raízes ”.
Artista sensível, escreve
poesias desde a mocidade, seus textos falam de como foi sua vida, os
problemas que enfrentou, como também sua visão da sociedade ao qual se
encontra inserido. Tem apreço pela pintura desde a infância, seus
quadros podem ser vistos no interior de sua loja e não tratam apenas de
paisagens mortas pintadas sem sentido, pelo contrário, muitos chegam a
quase ter vida própria, sendo uma representação crítica do que o artista
absorve da existência. Não contente, ainda exerce a atividade de
escultor, esculpindo brilhantemente na madeira. Dilton conta que
aprendeu bastante nessas décadas e que não se arrepende de nada.
O anônimo poeta que consertava o
relógio da Praça da Graça, hoje, coleciona recortes do passado, em forma
de objetos e lembranças; sempre preocupado com a preservação da
história, faz um apelo para quem possuir peças antigas e raras, que não
queiram mais, para entrarem em contato com ele, concluindo: “sou muito feliz, graças a Deus, e com ele, minha família e amigos sigo meu caminho…”.
Claucio Ciarlini (2008)
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