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Getty ImagesO energético pode potencializar os efeitos da bebida alcoólica e fazer com que o usuário tenha um julgamento errado sobre seu estado de embriaguez
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O médico Anthony Wong, chefe do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas (SP), relata que este é um hábito que está virando uma epidemia mundial. “Pior que quanto mais jovem é a pessoa menos controle ela tem sobre as bebidas alcoólicas. É necessário tomar uma atitude de controle por parte das autoridades com o crescente abuso dessa associação”, opina.
Há vários motivos apontados pelos consumidores para se misturar as bebidas. Entre eles, disfarçar o gosto do álcool (principalmente no caso de destilados), além de esticar a balada. Por ser estimulante, o energético carrega o mito de anular os efeitos depressivos do álcool, o que é verdade em parte porque a bebida reduz a sensação de sonolência, mas os reflexos continuam mais lentos sob o efeito do álcool.
Percepção alterada
Pesquisas vêm comprovando que o consumo de álcool com energéticos pode estimular o alcoolismo, dar mais disposição para beber (a pessoa fica mais tempo em uma balada ou bar bebendo, por exemplo) e tornar o indivíduo mais suscetível aos problemas relativos ao consumo de álcool (machucam-se mais ou sofrem mais acidentes, necessitam de ajuda médica ou enfrentam problemas sexuais).
Alexandre Clemente Chame, de 36 anos, percebeu alguns desses sintomas após abusar na dose de energéticos em uma casa noturna. “Não costumo beber destilado, mas como meus amigos tinham comprado uma garrafa, resolvi tomar a bebida com energético para acompanhar. Percebi principalmente que fiquei até mais tarde na balada, costumo ir embora mais cedo, e acabei esticando até umas cinco da manhã. Daí bebi bem mais que de costume. No dia seguinte, a ressaca foi pior. Na hora até pensei: ‘esse negócio’ ajuda a não bater o carro na volta porque eu parecia estar mais desperto, mas depois percebi que poderia ter sido até pior, pois eu achava que estava normal para dirigir”.
Um dos maiores riscos dessa combinação é realmente o de mascarar os sintomas. De acordo com a psicoterapeuta Ilana Pinsky, professora do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), não sentir os efeitos do álcool pode parecer bom, mas não é. É uma maneira de tapear o que o corpo está sentindo. “A pessoa não fica tão bem quanto pode pensar, pode dirigir de maneira arriscada, e os órgãos do corpo são afetados da mesma maneira, ela sentindo ou não”.
Advertências
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, a venda de energéticos é autorizada no Brasil desde 1998, após a avaliação da agência sobre a segurança dos produtos. “Não existe nenhuma proibição quanto a comercialização dessas bebidas por parte da Comunidade Europeia e as mesmas estão dispensadas de registro na Anvisa”.
O que diz o fabricante
O fabricante de um dos energéticos mais populares do mercado, o Red Bull, diz que, “em relação ao uso associado ao álcool, não há nenhum indício de que o Red Bull® Energy Drink tenha qualquer efeito (positivo ou negativo) associado ao seu consumo. Isto foi confirmado pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês), em comunicado de 2009, que concluiu não haver interação entre a taurina, a glucoronolactona, a cafeína e o álcool, mesmo durante atividade física”.A empresa também alega que um consumo moderado de cafeína (menos de 400 mg por dia, o que equivalente a 5 latinhas do energético) não afeta negativamente a saúde cardiovascular. E completa: “o Red Bull® Energy Drink é vendido em mais de 160 países porque autoridades de saúde do mundo todo concluíram que o mesmo é de consumo seguro”.
Além disso, as embalagens devem conter obrigatoriamente as seguintes advertências, em destaque e em negrito: "Crianças, gestantes, nutrizes, idosos e portadores de enfermidades: consultar o médico antes de consumir o produto" e "Não é recomendado o consumo com bebida alcoólica".
Segundo a Anvisa, os primeiros alertas se devem ao fato de o produto ter uma “elevada quantidade de cafeína em sua formulação”. Já a restrição à associação com álcool é feita, pois “pode potencializar os efeitos da bebida alcoólica e fazer com que o usuário tenha um julgamento errado sobre seu estado de embriaguez (tem a percepção de que não está bêbado, mas os efeitos deletérios do consumo de álcool sobre a coordenação motora continuam)”.
Mais vulneráveis
O cardiologista e médico do esporte Nabil Ghorayeb fecha a questão dizendo que o problema está no uso indiscriminado dos energéticos sem que se saiba dos riscos. “As pessoas não costumam ler os rótulos e, se não tivesse qualquer tipo de perigo, não teriam advertências nas embalagens dos produtos. O risco maior está na dose, principalmente para quem tem sensibilidade à cafeína ou predisposição às arritmias ou faz parte do grupo citado nas embalagens (crianças, idosos, nutrizes, grávidas, com problemas de saúde)”.
Ghorayeb alerta para as pessoas ficarem atentas a sinais de maior sensibilidade, como palidez, aceleração do coração, aumento da pressão, etc.. “A intoxicação por cafeína é manifestada pela presença de ansiedade, insônia, desconforto no estômago, tremores, taquicardia, agitação e até raros casos de morte foram descritos na Austrália, Irlanda e Suécia”, acrescenta Vacanti.
"Enganar" o sono
Para os pais, Ilana Pinsky recomenda que a informação é a maior arma contra o problema. “É essencial conhecer o que é energético, suas propriedades, o que é considerado um excesso de consumo. E conversar com os filhos sobre isso, informar-se primeiro para depois informar o filho”, aconselha a psicoterapeuta.
Ilana completa explicando que faz parte da característica da nossa sociedade tentar burlar o que estamos sentindo e se faz isso de uma maneira excessiva, o tempo todo, e não só na questão do álcool. Talvez esta também possa ser a explicação para o consumo crescente de energéticos, uma busca por “enganar” o sono, a timidez (no caso da associação com o álcool) e o corpo, prolongando a sensação de diversão na balada ou a malhação na academia.
Mas é preciso lembrar que o preço pode ser caro demais. Recentemente, pediatras americanos anunciaram que, nos últimos anos, já foram registrados mais de 2,5 mil casos de internações e atendimentos por intoxicação por cafeína em menores de 19 anos. E já que essa associação é prática comum e permitida, por enquanto não há outro jeito: quem deve ficar alerta e moderar na dose é o consumidor!
Por Carla Prates
Especial para o UOL Ciência e Saúde
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