Na cidade de Floriano
(PI), que tem 57 mil habitantes, pode faltar o principal na hora de
apagar o fogo. O tanque de água do caminhão fica vazando o tempo todo.
Por isso, mesmo sem ocorrência, todo dia tem que ser recarregado. São
cinco mil litros de água por dia.
O caminhão é uma sucata.
O freio não funciona direito e não há cinto de segurança. “Essa unidade
também não tem sistema de rádio, não funciona o limpador de parabrisa. A
porta sem vidro. Não tem condições de atender emergência. Ele vai, mas
colocando em risco o tráfego”, destaca o presidente da Associação dos
Bombeiros Militares do Piauí, Francisco Silva.
A equipe do Fantástico
acompanhou um dia de trabalho dos bombeiros de Floriano. Nenhum deles
está habilitado para dirigir o caminhão.
“O comandante geral sabe que os bombeiros dirigem sem permissão?”, perguntou o repórter.
“Tanto essa prática como
outras condutas já foram informadas de maneira formal, mas o que nós
temos percebido é a total ausência de manifestação prática da
autoridade”, diz o capitão Anderson Pereira, da Associação dos Bombeiros
Militares do Piauí.
A precariedade do Corpo
de Bombeiros do Piauí foi constatada pelo Ministério Público do
Trabalho. “Não fossem estabelecimentos de utilidade essencial para a
segurança da sociedade, esses estabelecimentos inclusive deveriam ter
sido interditados, eles não têm condições de prestar um mínimo
atendimento à sociedade”, diz o procurador do Piauí José Wellington
Soares.
Em Picos, também no
interior do Piauí, 73 mil habitantes, outro exemplo de péssimas
condições de trabalho: um caminhão bem antigo foi todo adaptado para
armazenar água. Foi feita uma espécie de piscina na carroceria. O que
era para ser só um quebra-galho virou permanente. “O que se observa é
que continua operando, como se fosse uma viatura de combate contra
incêndio”, aponta Pereira.
Em 2007, o governo do
estado e o Ministério da Justiça fecharam um convênio para construir uma
nova sede da corporação, em Picos. A equipe do Fantástico foi ver a
obra indicada pelos próprios bombeiros, que estaria parada desde 2010. O
prédio está abandonado, as paredes estão rachadas e o piso começou a
trincar.
Foi o que aconteceu na
quarta-feira (3), em Piripiri, cidade com 61 mil habitantes. Um incêndio
destruiu uma casa em um bairro afastado. Maria dos Remédios Sousa, de
40 anos, morreu carbonizada. Ela era doente e morava sozinha. Foram os
vizinhos que tentaram apagar o fogo. “O bombeiro foi meu filho que pegou
a mangueira e estava por cima aguando, apagando”, diz a vizinha
Francisca dos Remédios.
“É uma falta de
investimento do poder público. Infelizmente, os administradores não
querem ver a situação da comunidade”, afirma o promotor de justiça
Nivaldo Ribeiro.
Uma pesquisa do
Ministério da Justiça mostra que, no Piauí, há um bombeiro para cada
grupo de 9.430 habitantes. É a pior proporção do país. “O que se
estabelece internacionalmente é que se tenha um bombeiro para cada mil
habitantes”, aponta o pesquisador José Carlos Tomina.
No Brasil, no que se
refere a efetivo, apenas o Distrito Federal e os estados do Amapá e do
Rio de Janeiro seguem os padrões internacionais de segurança. “O ideal
seria que todos os municípios tivessem postos de bombeiros. A ideia é
que, em sete minutos, no máximo, os bombeiros consigam chegar em
qualquer emergência”, avalia Tomina.
Percorrendo o Brasil, o
Fantástico encontrou outra situação grave. Devido à falta de bombeiros, o
trabalho de prevenção a incêndios fica seriamente comprometido. Em
grande parte do país, vistorias e alvarás demoram pra sair. “Se
estivessem ocorrendo avaliações com rigor, muitos edifícios estariam em
melhores condições. Muitos estariam interditados e nós não teríamos 200
mil incêndios por ano”, aponta Tomina.
Segundo o governador do
Piauí, a situação vai mudar. “Nós convocamos os últimos 35 concursados
recentemente. Já treinamos, qualificamos, capacitamos e agora
autorizamos um novo concurso público para os bombeiros do Piauí”,
afirmou Wilson Martins.
No cargo desde 2011, o
comandante-geral dos bombeiros do Piauí reconhece a precariedade. “Você
tem que entender que aqui é um caso extremo. Não tem como. Eu vou botar
quem para dirigir o carro?”, pergunta Manoel Bezerra dos Santos. Essa
foi a resposta sobre o fato de bombeiros dirigirem caminhões sem
carteira de habilitação.
Quanto à falta de
equipamentos e viaturas sucateadas, ele diz: “O que tem chegado aqui a
gente tem procurado atender. Certamente, alguma coisa ou outra possa ter
passado despercebida”.
Para ele, quem tem que
se esforçar são seus subordinados, que comandam os bombeiros no
interior. “Ele, comandante, solicita ao comandante aqui. Compete a ele
vir aqui na capital e ver. ‘Ó, comandante, eu preciso disso aqui para
poder dar agilidade nesse processo’. Ele tem lá dois carros pequenos
para fazer vistoria. Se ele não dá conta, sinto muito”, afirma Santos.
Fonte: Com informações do Fantástico
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