quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Aniversário de 171 anos da Parnaíba: estamos emancipados





No dia 14 de agosto de 1844, a vila de São João da Parnaíba foi elevada a categoria de cidade pela lei nº 166 promulgada pelo então governador José Idelfonso de Souza Ramos. Nessa semana, portanto, Parnaíba completa 171 de emancipação e é cantada em verso e prosa como a cidade que mais cresce no Brasil! Graças à ação competente das administrações que cuidaram do erário público nestes últimos 11 anos. Sem eles a Parnaíba não seria a mesma!!!
Porém, o argumento não resiste à análise da realidade objetiva. A cidade vive uma falsa sensação de desenvolvimento. A não ser se considerada apenas o eixo das Avenidas São Sebastião e Pinheiro Machado o que parece ser a opção cuidada, aos olhos da administração municipal. Olhando os bairros mais afastados da área central vamos ver o descaso em intensidade e abrangência que assusta a própria ficção. Vivenciamos um “apartheid” social, uma segregação comum aos tempos modernos e aos centros urbanos que põe em guetos crianças, jovens e idosos largados à própria sorte, “invisíveis” ao poder público municipal, onde os direitos mais elementares destes segmentos da população são cerceados.
Saindo do referenciado eixo nobre se tem uma ideia do descaso e de quão mesquinha é a forma de pensar a cidade. Parnaíba ressente-se de um plano de desenvolvimento estratégico. A estratégia empreendida não vai além da politicagem. Está em curso a busca desenfreada por apoio político efetivado pela troca de cargos comissionados e outras quinquilharias. Nem a crise que já põe em risco o pagamento de fornecedores e servidores é capaz de levar a administração a uma mudança de postura gerencial.
Entre o “castelo da Itaúna” e a cidade da Parnaíba há um diálogo de surdos e um mar de incompetência. Ninguém consegue responder as demandas, sequer ouvir o grito dos desfavorecidos. A manutenção de uma estrutura exagerada de secretarias e a desenfreada farra de nomeações dá o tom da marca de uma administração que faz uso das armas do passado que visa, em última instância, a reeleição. Por isso se diz ser esta uma gestão divorciada dos interesses coletivos. A hora da verdade fiscal está chegando, o déficit nominal (o que se arrecada e o que se gasta) está no limite. E não há acenos para ajustes.
Mas é preciso festejar! A programação festiva em alusão ao aniversário da Parnaíba não contempla, mais uma vez, nenhuma obra estruturante e de largo alcance social executada com recursos próprios do município. E olhe que o generoso orçamento anual de cerca de R$ 320 milhões vai chegar neste terceiro ano de gestão à fabulosa cifra de 1 bilhão de reais. O que fizeram com tanto dinheiro?!
A programação oficial consta da inauguração de duas Unidades Básicas de Saúde, importantes para as populações dos bairros São Vicente de Paula e Fátima, construídas com recursos federais. Insere-se ainda o Complexo da Polícia Civil e o Espaço de Incubação Acadêmica no Pólo Tecnológico de Parnaíba.
Também haverá um desfile das autoridades por ruas onde se faz a recuperação poliédrica e asfáltica, obra da administração estadual. Pois é, nem mesmo a carona dada pela União e pelo Estado está bem aproveitada. As obras inauguradas, quase não foram concluídas. Delas com atraso de mais de um ano do prazo de entrega à população. E o que dizer das tantas paralisadas e sem nenhum tipo de justificativa. Qual é mesmo a marca deste governo? Governar é um desafio ou um desatino?
O que está patente é uma mentalidade tacanha com ações administrativas igualmente menores que valorizam a fofoca e a perseguição rasteira daqueles que não leem na cartilha do governo. Servidores são chamados a toda hora ao esquadrão para jurar fidelidade. Coerção e covardia. Pobreza de espírito se mistura à incapacidade de manter a hombridade da impessoalidade que a liturgia do cargo exige.
Isso agravado em razão de um padrão de tolerância que leva uma grande parte da sociedade à submissão, dependência e acomodação. Soma-se ainda a inesperada virtude da ignorância onde a propaganda falseia e distorce a realidade, transformando atos obrigatórios em favores aos desprotegidos.
Sob pretextos nobres se promove o mal!
Neste glorioso 14 de agosto deveríamos estar celebrando a nossa efetiva emancipação. O seu conceito deriva do latim emancipare, relacionando-se ao processo, individual e coletivo, de considerar pessoas ou grupos independentes e representa o processo histórico, ideológico, educativo e formativo de emancipar indivíduos, grupos sociais e países da tutela política, econômica, cultural ou ideológica.
Assim, emancipar-se só é possível, no contexto de sociedades democráticas, por exigir um exercício anterior de noções como liberdade, igualdade, autonomia e desalienação, pois para exercer a emancipação, é necessário viver em sociedade, usufruindo direitos civis, políticos e sociais, nos âmbitos individual e coletivo, o que se desdobra em questões morais e éticas. Estamos emancipados?
Concluo parafraseando Marx: a administração rasgou o véu de emoção e de sentimentalidade das relações sociais e reduziu-as a mera relação politiqueira.


 (*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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