O processo político em Parnaíba vem sofrendo um rebaixamento. Uma grande maioria não quer discutir propostas, ideias. Em voga, apenas estratégias de como se faz para ganhar uma eleição ou como se comportar para se manter no poder. Na ordem do dia: marketing e fatiamento da máquina administrativa.
Com pesar reconhecemos que se vivencia um capítulo nefasto da nossa história política. De um lado a compra de apoio político se escancara a olhos nus em detrimento da eficácia dos serviços públicos. De outro, o inebriado desejo de chegar ao poder. Nossos gestores e outros tantos pretensos estão “embriagados”. Falta, em ambos os grupos, uma espinha dorsal, a dita pegada? Falta um projeto para Parnaíba?! Pensemos...
O desenrolar dos acontecimentos da política parnaibana há muito tempo que está determinado e muito bem determinado. Famílias oligárquicas se alternando no poder, um ou outro fora da “origem”, mas com o apoio incondicional destas. Tudo em ordem, bem definido. Impossível chegar ao poder sem elas?!
Não se pretende apresentar agora uma descrição externa dos acontecimentos, mas antes mostrar os mecanismos segundo os quais tais eventos se desenvolvem; como se inter-relacionam; que consequências provocam e, ainda, como dessa imbricação, a cidade compreende e vive a política. Precisamos refletir?!
Ruggiero Romano (1923-2002) foi um historiador italiano, autor, dentre outros livros, de "Mecanismos da Conquista Colonial" - muito bom, por sinal, ele escreveu:“Compreender os fatos, os acontecimentos... tudo isso não é apenas um julgamento histórico, mas pode e deve ser um elemento para nos guiar(...) em nossa vida cotidiana, em nossos contatos com o “outro”: pois, todos os dias, estamos em contato com o “outro” e devemos aprender a respeitá-lo, sem nos contentarmos em considerá-lo abstratamente como um “igual” conservando no espírito as diferenças que o separam de nós”.
A falta de questionamento sobre o atual modelo de se fazer política e de se administrar a cidade nos leva a dar “saltos no escuro”, como sempre ocorreu. Com isso, fica a população, especialmente as pessoas mais desprotegidas, à mercê dos caprichos, erros e acertos daquele que ocupa o cargo de prefeito.
Violência, injustiça, hipocrisia caracterizam a forma manifesta do poder local. Não se trata de colocar a história parnaibana sob a égide da apropriação pública pelo privado, da inoperância, da inaptidão para gerenciar tão somente. Simplesmente, e longe de qualquer julgamento moral, quer-se sublinhar que as formas, os métodos, as maneiras de gestar, mesmo que se queira (e, em certos casos extremos se pode) justificá-los em nome da moral corrente nos discursos de quem detém o poder, não contém em si o que de fato deve mover a missão de governar, ou seja, a promoção do bem-estar social.
A aproximação do pleito eleitoral parece que aflora o mais primitivo dos instintos do humano envolvido politicamente. Um vale tudo para ganhar a eleição se sobressai. Mas, como disse Marina Silva: “é melhor perder ganhando do que ganhar perdendo”, ganhar perdendo é fazer o jogo do poder pelo poder. É usar a mentira, é comprar apoio político, é defender o projeto pessoal, em suma, é a vileza latente que pulsa!
Defendo uma maneira de pensar a política que persiga a governabilidade com base em programas, essencialmente naquilo que concerne à prática sustentável e à questão que julgo fundamental onde se estabeleça um novo patamar para as alianças políticas que não sejam com base em apoio político puro e simples. Da conexão destas duas dimensões reformadoras nascerão as condições para uma aproximação democrática entre a administração e os cidadãos. Dela dependem as chances de uma governabilidade democrática. Em resumo, o discurso a respeito de uma representação política de qualidade deságua em um ponto: será preciso atingir o cerne mesmo do sistema político, modernizar as instituições básicas da política e modificar o padrão predominante dos atos e comportamentos políticos. Cabem aqui, evidentemente, os mais variados esforços para a fixação de regras e normas que incentivem a vida partidária, responsabilizem os políticos, freiem a pulverização artificial dos partidos, aproximem eleitores e candidatos através de procedimentos que racionalizem a competição eleitoral, facilitando, deste modo, a construção de consensos e a formação de maiorias governantes (o que se esperava da “reforma política” que não aconteceu). Porém, a recuperação da política não se fará apenas no plano da lapidação dos mecanismos da representação: sua chave repousa na ampliação e requalificação do protagonismo político das grandes massas, o que se traduz em uma fusão de novo tipo entre participação, representação e governo do social.
Acredito que seja possível se fazer política diferente do que está aí. Como? Aproveitando o legado de bom que há na administração; governando com os melhores, com base em programas; defendendo o empoderamento e a inclusão social; estimulando o controle e a participação social; e tomando a sustentabilidade por base de toda a ação governamental, prioritariamente.
A recuperação da política e do sistema político parnaibano é uma utopia? Creio que sim, mas se não fosse a utopia qual seria a motivação para viver? Eduardo Galeano disse: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Vamos sonhar, mas vamos caminhar!!!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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