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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Impeachment uma contenda desleal: da esperança ao medo

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Por:Fernando Gomes(*)
Há algum tempo venho acompanhando a movimentação política em torno das manifestações do pedido de impedimento do atual mandato da presidente Dilma Rousseff. Os protestos Brasil afora, o oportunismo de alguns, a manipulação da mídia, tanto de um lado, quanto de outro, a desfaçatez dos atores sociais envolvidos por interesses pessoais e na maioria escusos, enfim uma página infeliz da nossa história!
Quero refletir sobre a essência e não a aparência do que estão falando sobre a possibilidade de deslanchar o processo de impeachment. Primeiro, categorizar os protagonistas do PT responsáveis por tudo isso. Esses malandros (a lista é grande não tem como nominá-los, alguns presos e outros ainda sob investigação) conseguiram por na lama uma ideologia de excelência que durante décadas o Partido dos Trabalhadores disseminou pelo país, conquistando direitos sociais importantíssimos aos mais desprotegidos. Conseguiram também frustrar a esperança do povo brasileiro, mal maior. No PT ainda há pessoas de bem, decentes e honradas, como aliás tem em todos os partidos e que alguns petistas desprovidos de razão diziam ser uma exclusividade da sigla, somente eles eram os guardiões da ética e da moral política!
N’outro plano, analisar a postura de algumas personalidades da política viciada e detentores de caráter marcado por atos nada republicanos. Estes, arvoram-se na defesa da ética e da moralidade bradando em alto e bom som: “Fora Dilma!”.  Tais políticos dão margem ao PT para desqualificarem o pedido de impeachment. De certa forma eles atrapalham! Razões existem para o impedimento. Porém, mais legítima seria a condução das manifestações pela sociedade sem a necessária presença dessa turma, a exemplo dos protestos ocorridos em junho de 2013 (Movimento Passe Livre) e no início deste ano (Vem Pra Rua).
Dilma Rousseff não é corrupta. Tenho quase convicção disso, pois afirmar é perigoso! Lembro aqui da hombridade estabelecida em meio à opinião pública de nomes como Demóstenes Torres e Delcídio Amaral, para citar a frustação e a perplexidade que o Brasil viveu ao conhecer o caráter destes homens. Mas, o julgamento que pode custar uma mancha irreparável na biografia da presidente está ligado à condição, segundo noticiado, de ter tido conhecimento e beneficiar-se do esquema de corrupção da Petrobrás que, de certa forma favoreceu o seu governo e até mesmo contribuiu com a reeleição do seu atual mandato.
O teatro promovido nessa disputa mostra dois aspectos marcantes, de um lado: o que os abutres são capazes pelo poder. Atacam e tentam inviabilizar o governo e outros fazem a defesa sem argumentação dizendo que as “pedaladas”, por exemplo, não são exclusividade deste governo, desde FHC que se “pedala”. Ora, como se o erro por si só se justificasse. O debate do “nós” contra “eles” simbolizado pelo PT e PSDB é reflexo da luta pela hegemonia partidária, pouco importa os reais interesses da sociedade brasileira.
E, de outro lado: a passividade do cidadão! A inflação, serviços públicos precários, violência e a corrupção atinge a todos, mas nada disso é capaz de mobilizar a sociedade. Chora-se pelo time que perde o campeonato, mobiliza-se para colocar uma escola de samba na avenida para desfilar um dia de carnaval, mas não nos mobilizamos para frear a politicagem! Nesse sentido, os profissionais da política agradecem!
De quebra, o PMDB sentindo o barco entrar água já pulou no bote salva-vidas e quer mostrar-se como o partido da salvação nacional. Desvincular-se de tudo que está aí, inclusive das trapaças, parece ser algo fácil para Temer e seus aliados. Eles têm a certeza que o povo lhes vão creditar confiança por não “compactuarem” com as “coisas erradas” do governo Dilma Rousseff. Onde eles estavam mesmo?!
A carta do Vice, as brigas, xingamentos e tapas entre os deputados, a destituição do líder do governo do PMDB, o circo em torno do Conselho de Ética mostram a voracidade e o empreendimento das lideranças pelo impeachment ou pela sua defesa. Impressionante o empenho. Orgulhariam a todos nós e em especial aos mineiros caso, esses mesmos políticos, discutissem e brigassem por respeito e atenção às famílias atingidas pelo desastre da barragem em Mariana! Os interesses nacionais não são pautados por eles!
A sociedade precisa despertar para o fato de que os dois lados estão interessados no poder e vão usar as armas que têm para conseguirem seu intento. É preciso analisar a superficialidade com que estão tratando essa questão: impedimento da presidente. A presidente Dilma e seu governo precisam pagar pelos erros cometidos, mas isso é apenas parte do necessário. É preciso enfrentar a institucionalização da corrupção, recuperar os recursos desviados e punir a todos os envolvidos. Todos!
O jogo sórdido de Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Lula, Aécio, Temer e seus aliados dão a medida exata do quanto necessitamos de uma reforma política. Enquanto pensam na faixa presidencial esquecem do Brasil e dos brasileiros. Carecemos de uma reforma política séria. Não somente na regra do jogo, mas sobremaneira na substituição da representação que comanda os destinos do nosso país.
Um misto de nojo, vergonha, indignação e tristeza toma conta dos brasileiros. A crise instituída é reflexo da realidade produzida pela maioria da representação política que temos em todos os níveis, salvo raríssimas exceções. Admitir que vivemos uma crise moral e ética é o primeiro passo para enfrentá-la!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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