Jovem cometeu suicídio após vazamento de vídeo íntimo através do aplicativo
Reprodução/Twitter
Caso Julia Rebeca: apps potencializam divulgação da intimidade na rede
Nos últimos meses, vários casos de divulgação de imagens íntimas aconteceram após a troca de mensagens no serviço WhatsApp. Embora a prática de filmar ou fotografar relações íntimas e divulgá-las na internet (o que costuma ser chamado de “pornô vingança”) não seja uma novidade, o especialista em segurança digital e perito em crimes virtuais Wanderson Castilho comenta que aplicativos de envio de mensagens facilitam a distribuição do conteúdo, o que pode aumentar a frequência de casos no Brasil.
— Esses aplicativos potencializam a divulgação de imagens, por ser tudo muito instantâneo. A partir do momento que eu recebi, eu já posso compartilhar com outra pessoa e assim por diante. Após esses casos, acredito que a empresa vai começar a tomar mais cuidados, ela tem registros das mensagens e pode ajudar a identificar o usuário.
Para Castilho, não é possível controlar o que é compartilhado pelo serviço sem que seja comprometida a privacidade das mensagens enviadas aos amigos.
— Não vejo a empresa dona desse aplicativo sendo responsabilizada, seria o mesmo que culpar uma companhia telefônica por conta de um usuário que liga para o outro fazendo ameaças de morte.
Caso de sexting aumentam e congresso discute projetos
Para a advogada especialista em direito digital Cristina Sleiman os familiares e vítimas desse tipo de crime não devem ter esperança de conseguirem uma resposta rápida da empresa que controla o aplicativo, pois a legislação ainda não é ideal para tratar esses casos.
— Tecnicamente, se fosse só pelo WhatsApp seria um processo contra a empresa que detém o aplicativo. Isso é um processo que, só para a empresa ser citada, leva uns três anos. Caso a empresa não tenha uma operação no Brasil, uma segunda opção é contratar um advogado fora do País, que atue na localidade onde a empresa tem representação.
Como encontrar o responsável
Castilho, que atuou no caso da jornalista Rose Leonel em 2006, indica que uma das formas de materializar a “prova do crime” é guardar a imagem ou vídeo recebido para que os peritos possam fazer o caminho reverso e rastrearem as informações até o autor da publicação. Há uma ressalva de que, quem repassa a imagem não autorizada, também pode receber as mesmas penalidades do autor.
De acordo com Sleiman, só será possível diminuir a quantidade de casos e evitar essas tragédias entre adolescentes com ações educacionais.
— A gente só vai ter uma melhora nesse cenário quando esses jovens souberem das graves consequências legais e mesmo psicológicas desses atos. O que é brincadeira para eles pode acarretar consequências jurídicas para o jovem e para os pais dele também. É importante que as escolas façam valer o seu papel de orientar e educar para a vida. Levar aos jovens a consciência do que eles fazem na internet.
Apps repudiam divulgação de sexting
Até o fechamento desta matéria o WhatsApp ainda não havia entrado em contato para dar seu posicionamento sobre a divulgação de conteúdo íntimo por meio do aplicativo. Atendendo ao pedido da reportagem do R7, outros aplicativos de envio de mensagens comentaram a divulgação de conteúdo do chamado de sexting e também o "pornô vingança", quando criminosos divulgam imagens íntimas de determinada pessoa como forma de revanche.
Em comunicado, o WeChat afirma:
— Levamos a sério a proteção de dados dos usuários no desenvolvimento de produtos e operações diárias, e, ao mesmo tempo, como outras empresas internacionais, cumprimos com as leis dos países em que operamos. Somos contra este tipo de ação ("porn revenge"), que viola a privacidade e pode causar danos sérios e permanentes à vítima.
O WeChat tem uma política de privacidade para proteger o usuário. A fim de proporcionar aos usuários um ambiente online mais seguro, sadio e sociável, o WeChat projetou notificações de segurança para os usuários e fornece canais oficiais de comunicação. Medidas relativas às contas inadequadas:
- Os usuários podem fazer reclamações ao SAC a respeito de perfis ou mensagens de texto obscenos, bem como solicitações ilegais através da função de relatório do WeChat;
- Após a verificação, o SAC irá limitar certas atividades na conta do usuário relatado, tais como serviços de localização, como a função “Agitar” e adicionar contatos;
- Em “Momentos”, a rede social fechada do WeChat para o compartilhamento de informações e fotos, apenas os amigos aprovados por pelo usuário podem visualizar seus posts e comentários.
— O aplicativo LINE tem uma política de tolerância zero no que diz respeito à produção e/ou divulgação de conteúdo inapropriado, a empresa mantém restrições rígidas em relação a este tipo de problema nos seus termos e condições. O serviço não permite que stickers (adesivos) com conteúdo sexual explícito sejam produzidos por nosso time. Nós somos bastante sérios quanto a manter o LINE seguro e limpo.
Tiago Alcantara, do R7
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