Uma vítima afirma que o pastor organizava orgias na casa de uma irmã do traficante Marcinho VP
O pastor Marcos Pereira, preso anteontem à noite pelo estupro de duas mulheres, foi denunciado à polícia por mais quatro pessoas. A investigação da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) ouviu 30 testemunhas em um ano e, no total, outras 20 mulheres são citadas como vítimas do religioso. Segundo depoimentos, ele obrigava as fiéis a orarem enquanto faziam sexo, dizia a elas que iria salvá-las do demônio se mantivessem relações com ele e promovia orgias entre fiéis de sua igreja, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Uma vítima afirma que o pastor organizava orgias na casa de uma irmã do traficante Marcinho VP, em Ricardo de Albuquerque. Segundo o depoimento, ele obrigava a menina a ir dormir na casa da mulher e aparecia no local de madrugada. A vítima, então, "era obrigada a manter relações sexuais com os dois". Ela ainda afirma que o pastor a obrigava a "ter relações com um homem que ela não conhecia, como se fosse garota de programa".
"Estou vendo um espírito de lésbica em você". Essa teria sido uma das primeiras frases ditas pelo pastor a outra vítima. Segundo o depoimento da mulher — que contou à polícia ter sido estuprada pelo religioso entre 1997 e 2009 —, a violência começou assim que ela entrou para a igreja, aos 14 anos. A primeira relação dos dois teria sido na casa de uma fiel e, segundo o depoimento, "com o tempo, Marcos passou a trazer mulheres para participar dos atos sexuais ". Ainda de acordo com o relato, "uma vez se recorda que participou um garoto de programa". Ela contou também que o pastor passou a trazer outras fiéis da igreja para as orgias. Depois, o religioso ordenava aos participantes que pedissem perdão.
— O pastor usava a oratória para convencer as vítimas. Se não fosse suficiente, usava a força física — diz Márcio Mendonça, titular da Dcod, que ainda investiga o pastor por quatro homicídios, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.
Uma das vítimas, que na época era fiel da igreja, relata que o pastor recebia dinheiro do tráfico e, em troca, entregava CDs e DVDs de cantores gospel: "Ele recebia entre R$ 15 mil e R$ 20 mil dos traficantes e entregava CDs e DVDs no intuito de se resguardar na lavagem de dinheiro". Em outro relato, uma vítima conta que, em 2009, o pastor a chamou em seu gabinete, tirou suas roupas, deitou-a de bruços e "tentou a penetração em seu ânus". Ela afirma que "o pastor não conseguiu a penetração por não ter conseguido a ereção".
Ana Madureira Silva, ex-mulher do pastor, deu duas versões. Em depoimento à polícia, disse que o marido a estuprou. Ao EXTRA, nega a versão.
— Sou crente em Jesus, nunca menti. Que baixaria dizer que meu marido me estuprou. Me coloca numa situação vexatória. É golpe baixo.
Coação e homicídio
O pastor Marcos Pereira também vai responder na Justiça por coagir testemunhas. Ontem, os promotores Rogério Lima Sá Ferreira e Adriana Lucas de Medeiros denunciaram o pastor por intimidar uma mulher que havia acusado Marcos de abuso sexual. Os abusos teriam ocorrido quando a vítima tinha entre 12 e 14 anos. De acordo com a denúncia, em março de 2012, três homens, a mando do pastor, foram até a frente de uma loja onde a vítima trabalhava, em São João de Meriti, e passaram a fazer ameaças. Um deles fez gestos com dois dedos, e os apontou para a mulher, como $estivesse segurando uma arma.
— Os relatos não deixam dúvida da participação do pastor em crimes sexuais e de coação — disse o promotor.
O delegado Márcio Mendonça ainda investiga a participação do pastor no assassinato de Adelaide Nogueira dos Santos, em dezembro de 2006. Segundo testemunhas, ela era fiel da igreja e era abusada sexualmente pelo pastor. Indignada, a vítima começou a investigar se outras fiéis também eram abusadas pelo religioso. Um dos condenados pelo homicídio, Geferson Rodrigues dos Santos, é sobrinho do pastor.
De frente pro mar
Segundo a polícia, o pastor Marcos Pereira da Silva abusava de mulheres em seu gabinete na igreja, em casas de fiéis e em seu apartamento, na Avenida Atlântica, na praia de Copacabana, Zona Sul, avaliado em R$ 8 milhões. Ele foi preso na Rodovia Presidente Dutra, quando ia da igreja para o apartamento. Duas mulheres e um homem estavam no carro com ele. Um manobrista conta que, usualmente, o pastor chegava à noite. E com pompa de chefe de estado, numa espécie de comitiva formada por três carros. "Chegavam mulheres depois, a pé, com roupas da cabeça aos pés. Coisa da religião deles", disse Francisco Ferreira, que trabalha em frente ao prédio.
‘Ele dizia que ia me dar presentes’
Conversamos com uma das vítimas. Ela afirma que o pastor prometia presentes em troca das relações sexuais. A menina nunca cedeu. Após abandonar a igreja, ela depôs à polícia.
— Entrei para a igreja quando tinha 9 anos. Estudava na mesma escola que todas as meninas da igreja, e quem me levava de van para o colégio era um dos assistentes do pastor, que abusava de mim na volta. Contei aos meus pais, e eles foram ao pastor Marcos. Ele, então, me chamou ao gabinete dele. Estava lá sozinha. Ele me pediu para contar o que acontecia na van. Enquanto eu contava, ele repetia o que eu dizia em mim. Me apalpava, passava a mão nos meus seios, tentava me beijar.
Meus pais me ouviam gritar do corredor, em frente à sala. Vendo que eu não queria ficar com ele, ele me deu um soco no meu seio esquerdo. Até hoje tenho a marca. Meus pais não acreditaram quando contei, e continuei sendo obrigada a frequentar a igreja. Dois anos depois, fui morar lá por três meses. Mesmo eu tendo medo do pastor, ele vivia atrás de mim, me oferecia carros, bolsas caras, viagens para o exterior se eu topasse ficar com ele. Uma vez, ele foi ao meu quarto, de madrugada, e me chamou para ir dormir sozinha com ele na Fazenda Vida Renovada, que ele tem em Nova Iguaçu. Não aceitei. Durante um culto, ele me chamou de vagabunda, safada, na frente de todos os fiéis. Nunca mais voltei na igreja depois daquele dia. Até hoje tenho medo dele, que ele faça alguma coisa comigo.
FONTE: Extra
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