Bruna Gobbi, natural de SP, passava férias na cidade, com a família.
Ela foi atacada na tarde de segunda-feira, na praia de Boa Viagem.
O corpo da turista paulistana será encaminhado ao Instituto de Medicina Legal. Ainda não há informações sobre traslado do corpo, velório e enterro. Esse foi o 59º ataque de tubarão no litoral pernambucano e a 24ª morte, desde 1992, quando teve início a contagem desse tipo de incidente.
Bruna estava com uma prima quando foi atacada, por volta das 13h20 desta segunda. As jovens estavam na praia de Boa Viagem, na altura do edifício Castelinho. “Estávamos em um grupo de pessoas, eu, ela, nossos primos de Olinda, a mãe dela e a avó. Eu e ela estávamos no raso e percebemos que tinha um buraco, um declive, e não conseguíamos pisar no chão. Nessa hora um dos nossos primos pediu ajuda a um dos salva-vidas. Pouco depois de eu ter sido colocada no jet-ski dos Bombeiros, Bruna foi atacada", relembrou Daniele Souza Gobbi, em conversa com o G1.
O momento do ataque foi registrado pelas câmeras de monitoramento do projeto Segurança na Orla, da Secretaria de Defesa Social (SDS). As imagens mostram a movimentação de Bruna e Daniele no mar, além da chegada dos bombeiros e manchas de sangue na água após o ataque. No vídeo, dois bombeiros aparecem entrando no mar a nado para resgatá-las. Usando uma moto aquática, um terceiro bombeiro resgata as banhistas. Depois, todos saem em direção à faixa de areia. Em nota, a SDS informou que o salvamento e resgate das vítimas durou menos de dois minutos.
A prima de Bruna acrescentou que conhecia o histórico de ataques de tubarão na praia recifense. "Sabíamos que havia riscos de ataque, mas eu não achava que seria tão no raso, e sim no fundo", comentou.
Areia ficou com manchas de sangue.
(Foto: Priscila Miranda / G1)
Bombeiros alertaram para risco(Foto: Priscila Miranda / G1)
Rosângela Lessa também disse ao G1 que a família de Bruna Gobbi foi informada pelo Corpo de Bombeiros que estava em uma área de risco. Mesmo assim, o grupo teria se recusado a sair do mar. "A família foi abordada pelos bombeiros, que explicaram que era uma área em que havia possibilidade de ataques e pediram que saíssem da água. Eles então ficaram monitorando [o grupo] do posto de observação, tanto que chegaram ao ponto rapidamente, quando o ataque ocorreu", explicou.
Esta época do ano também é um fator de risco a mais, acrescentou a presidente do Cemit. "Estamos em um período de águas turvas, em que a probabilidade de ataques é mais alta, por causa das chuvas do inverno e da grande quantidade de material em suspensão que vem dos rios. Além disso, temos na cidade um monte de gente de férias, que costuma não acreditar no que dizem as placas", continuou, se referindo à sinalização que alerta para o risco de ataque de tubarão no litoral pernambucano.
Ainda sobre a corrente de retorno, Rosângela Lessa ressaltou não se tratar de um fenômeno excepcional. “Excepcional é a pessoa saber que está numa situação de risco, ser alertada e permanecer nesse lugar. É um conjunto de fatores previsíveis e indesejáveis, com consequências terríveis para a vítima, sua família e para a cidade", lamentou.
O vendedor ambulante Leonardo Ferreira de Brito confirma a informação do Cemit. "A correnteza estava puxando, elas estavam tentando voltar [para a beira]. O bombeiro falou três vezes para elas não entrarem na água. Dois banhistas estavam tentando socorrer, e mais dois bombeiros. Depois o jet-ski se aproximou, foi aquele sangueiro, parecia filme de Hollywood. A perna dela 'tava' totalmente dilacerada", contou.
De acordo com a presidente do Cemit, há 44 pares de placas sinalizando a ocorrência de ataques de tubarões, espalhados em 30 quilômetros do litoral pernambucano - uma delas, a menos de 100m do local do incidente desta segunda. Sem exames do ferimento, não é possível precisar a espécie do tubarão que atacou a jovem paulistana. "A gente só pode supor, dentro de uma hipótese bem ampla, que são as espécies que já se envolveram em incidentes anteriores, que são o cabeça-chata e o tigre", finalizou.
Atendimento médico
Os médicos do Hospital da Restauração (HR) que atenderam Bruna Gobbi conversaram com a imprensa durante a tarde. A perna esquerda da jovem foi amputada cerca de 15 centímetros acima do joelho, após uma mordida considerada extensa.
A cirurgiã vascular Maria Cláudia Albuquerque informou que a paciente chegou ao hospital com a pressão a zero, em um estado extremamente grave. "Foram feitas todas as medidas de suporte e ela foi levada ao bloco cirúrgico para uma avaliação. A lesão apresentada no membro foi muito extensa. Pedaços da musculatura e do tecido ósseo foram perdidos. Precisávamos de uma atitude rápida para conter o sangramento e tentar salvar a vida da paciente", detalhou a médica.
Bruna deu entrada no HR após ser transferida da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro da Imbiribeira. Nas duas unidades de saúde e no caminho entre a UPA e o hospital, ela sofreu paradas cardiorrespiratórias. A jovem foi submetida a uma cirurgia por volta das 15h, onde teve parte de membro inferior amputado. Após o procedimento, foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Seu estado era grave, com respiração através de aparelhos e uso de drogas vasoativas.
Números de ataques
Os ataques em Pernambuco começaram a ser contabilizados em 1992. Dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões revelam que 70,2% das vítimas, ao longo dos anos, tinham entre 14 e 25 anos. Além disso, 35,1% das ocorrências foram registradas durante período de lua cheia. Dos 59 ataques, 23 ocorreram na Praia de Boa Viagem e 17, na vizinha Praia de Piedade, situada no município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Ainda conforme o Cemit, 35 vítimas dos tubarões em Pernambuco sobreviveram; 24 pessoas morreram após serem mordidas pelos animais nos últimos 21 anos.
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