Assim como outras cidades brasileiras, Parnaíba também se apresenta
como cenário de forte segregação social, marcada pela desigualdade econômica.
Este panorama pode ser percebido, tanto no centro urbano como na periferia,
quando vemos diversas famílias em condições insalubres de moradia, sem saúde,
sem educação, sem trabalho e quase sempre em locais sem regularização
fundiária. Para ilustrar este caso falarei do Parque José Estevão uma comunidade pobre que se formou nas proximidades do
lixão...
Passadas algumas décadas de
sua fundação boa parte de seus moradores ainda vivem em condições sub-humanas.
Lá se reflete o pleno descaso do poder público: a incapacidade de assegurar
condições mínimas de habitação digna e de ofertar os serviços públicos básicos àquela
população sofrida.
Lá eles
estão sem escola, posto de saúde, creche, praça, igreja, quadra de esportes,
sem ruas pavimentadas e uma grande parcela ainda sem
acesso a água potável, iluminação pública e com escassez de alimentos. Disto,
os problemas decorrentes avançam sobre o território desassistido. Depois de estabelecida a lei
imposta pela desigualdade sobra: convulsão social. Explode a violência por toda
a cidade. Vem dos guetos o fornecimento do capital social do crime. Só pra
lembrar: ninguém nasce para ser bandido, isso é uma invenção da sociedade em
razão do processo econômico concentrador e excludente. E da má gestão!
Materializam-se na cidade
as relações da sociedade, vistas pela divisão entre pobres e ricos. Diante
deste cenário, questionamos: Até quando o nosso governante vai ignorar estas
populações “invisíveis”? Quando vai se sensibilizar com as vidas das crianças
que se perdem por doenças fúteis e as tantas vidas que “vegetam”? Qual o futuro
que ele projeta para uma cidade que não ampara os mais pobres?!
A
atual paisagem do Parque José Estevão está tomada pela pobreza. Melhor: pela
incapacidade crônica dos diversos governos de darem um fim à pobreza ou, no
mínimo, de implementarem políticas voltadas para a atenuação ou a eliminação
gradual desta chaga. Seja pelas dificuldades que impõe ao processamento
político das demandas, seja pela marginalização a que condena boa parte da
população, a reprodução desse quadro cria um ambiente estruturalmente tenso e
"ingovernável", pouco favorável à prática democrática
institucionalizada e ao desempenho estável dos governos. Ali está o
“desgoverno”...
A
pobreza está ainda sobredeterminada pelo fato de que, apesar do arco dos
últimos dez anos sob uma “administração proba e competente” não se soube lidar
com as questões básicas da vida das pessoas!
A rede de proteção
social promovida pelo governo federal através dos programas de transferência de
renda ainda estão longe de ser a solução. O “Bolsa Família” maior promotor da
renda no bairro não passa de um paliativo que ameniza a fome de muitos ali.
Falta uma política de emancipação, um programa de governo que tire as pessoas
da condição miserável de dependência de um recurso que sequer dá para adquirir
uma alimentação em quantidade e qualidade desejável a uma boa saúde humana.
A ajuda do governo é
salvadora em certa medida, mas mantém o ciclo da dependência. Nesse sentido a
ação governamental não é vista como consequência econômica, social e política
da desigualdade social e das precárias condições de trabalho, mas como um
comportamento pragmático, no campo do emergencial e providencial. Nesta
perspectiva, a atenção à pobreza é vista como controladora das tensões sociais,
não como um serviço estatal para assegurar direitos aos desassistidos. Nada
mais que isso!
Para piorar: a droga se
instala primeiro que o poder público. Aí a degradação social é voraz.
Violência, promiscuidade e fome são percebidas em toda a extensão territorial
do bairro. A presença do poder público se dá notadamente em duas situações,
pela ida do SAMU ou da viatura da Polícia Militar.
Tá na cara que cada vez
mais a cidade vai pagar pela falta de investimentos na tentativa de reduzir as
desigualdades sociais. Quanto custa
cuidar das pessoas, especialmente as desprotegidas? Quanto custa uma vida de um(a)
jovem interrompida pela violência? A mudança deste cenário só virá com uma
profunda reforma na cidade, uma reforma séria, comprometida e fundamentada em
princípios éticos e morais.
Ao invés de distribuir
graciosas portarias por que não promover o bem estar social???
Na semana passada estive
lá conversando com algumas pessoas. Triste, constatei que, apesar das
dificuldades que eles enfrentam, as reclamações são tímidas e quase sempre
difíceis de conquistar. A humildade e a falta de percepção dos seus direitos encobrem
a generalizada inoperância do poder público.
Nem mesmo a
universalização do Programa de Agentes Comunitários de Saúde está ali. Este programa que teria a possibilidade de aliviar o
sofrimento daquelas pobres pessoas não passa de mais um discurso proferido na
época da campanha. O Parque é uma das áreas que continua sem cobertura do
PACS.
Constata-se
também a ausência da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania – SEDESC
cujo governo se orgulha de dizer que “substituiu o assistencialismo pela ação
social” (?). É flagrante a omissão na implantação e gerenciamento de uma
política pública de assistência social. Tão necessária lá!
O que tem então no
Parque José Estevão? – Descaso. Pessoas invisíveis ao poder público!!!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor,
cidadão e contribuinte parnaibano.
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